Ponto eletrônico: Mais um mecanismo de opressão ao trabalhador
Fazia já alguns meses que precisava me manifestar neste assunto, mas só consegui agora. O assunto é o ponto eletrônico, algo que vêm afetando o cotidiano do meu local de trabalho e de outros diversos companheiros com certeza.
Primeiramente vale um resgate histórico, o ponto eletrônico é um mecanismo de supercontrole do trabalhador, surgiu na Revolução Industrial no século 19, período extremamente nebuloso aos trabalhadores, superjornadas de trabalho de até 18h por dia era a regra para boa parte dos trabalhadores e “bater o cartão” era o cotidiano para que os baixos salários ficassem mais baixos ainda.
Com o tempo este mecanismo de levar mais opressão ao trabalhador foi se modernizando, chegando aos dias atuais com os modernos relógios digitais. Uma das lutas históricas dos trabalhadores no mundo inteiro é a redução da jornada de trabalho, visto o pouco tempo que sobra por dia para o trabalhador de fato viver. Neste contexto, algumas conquistas já foram realizadas no mundo, entre elas a abolição do ponto eletrônico em alguns locais de trabalho, visto que muitos trabalhadores por que alguma vez chega um minuto atrasado tem descontos nos seus salários e ainda não conseguem dialogar com chefias sobre flexibilização do horário em algum acontecimento esporádico, como enchentes na cidade, transito, doença na família etc. Outra questão é a possibilidade no conflito capital x trabalho o trabalhador ter algum poder de negociação em relação a seu horário de trabalho. Esta conquista, não é para o trabalhador deixar simplesmente de trabalhar, até porque em uma sociedade capitalista, o trabalhador depende da venda da sua força de trabalho, a luta contra o ponto eletrônico engloba um arcabouço de lutas que visa o trabalhador ter algum ganho em sua qualidade de vida e reduzir sua exploração.
Com o ponto eletrônico as coisas ficam mais difíceis, o trabalhador tem que sair de sua casa mais cedo que o necessário para não correr nenhum risco de eventualidade no trajeto, chegar mais cedo no trabalho de forma desnecessária e pior aumentar seu nível de estresse ao sempre estar preocupado em não se atrasar, mesmo que o atraso não prejudique o trabalho.
Mas porque este assunto? Bom vivemos em tempos difíceis, os demagogos dizem por ai que as coisas estão melhorando, o consumo aumentou. Mas infelizmente sinto informar, a exploração do trabalho continua com força total, a grande maioria sai muito cedo de casa e chega muito tarde à mesma, não vê o sol nascer e muito menos se pôr, alias quando vê o sol.
A jornada no Brasil mesmo com alguns acordos coletivos, ou conquistas isoladas de algumas categorias profissionais, oficialmente a lei brasileira coloca que a jornada é de 44h/semanais, sendo que no máximo alguns lugares por acordo, alguns ramos fazem 40h, na prática muitos trabalhadores são obrigados pelo patrão fazer mais que 44h. Ou seja, o trabalhador tem muito pouco acesso a sua própria vida, vive só para trabalhar.
Estes demagogos atualmente são representados pelas chamadas “Centrais Sindicais”, no caso diversas hoje no Brasil, sendo reconhecidamente no meio dos trabalhadores como Centrais Pelegas. Entre elas temos uma que um dia foi diferenciada e defendia os trabalhadores, mas devido diversos motivos que não vou aprofundar aqui, deixou de defender os trabalhadores e se amoldou ao capital, a central é a CUT – Central Única dos Trabalhadores, hoje muito mais uma “Central dos Empresários Brasileiros e Estrangeiros”.
A CUT hoje não tem mais autonomia e não segue a vontade se sua base, ao contrário cada vez mais aliena a mesma para que esta não se manifeste e se tornou uma correria de transmissão governamental/patronal. Uma das ordens do governo e que a CUT esta seguindo a risca é a campanha pela implantação do ponto eletrônico para todos os trabalhadores. Ou seja, a luta que vem desde o século 19, no qual sempre os trabalhadores lutaram contra, a CUT esta com toda força lutando a favor. Evidentemente não só a CUT, mas cabe aqui analisar este caso notório. Um dos argumentos destes “capitães do mato” do capitalismo é que o ponto eletrônico evita fraudes (ou seja, generalizam o caso de algum aproveitador para todos os trabalhadores, tratando todo trabalhador como um aproveitador) e que o ponto eletrônico garante hora extra. Segundo infelizmente o Jornal Brasil de Fato segunda semana da edição de outubro em um espaço que se denomina “espaço sindical”, onde claramente vemos uma propaganda da CUT e da CTB (Centra dos Trabalhadores do Brasil, outra com uma linha política pelega), ali descrevia o mesmo argumento da CUT, por exemplo, explanada em assembléias no local onde trabalho cujo sindicato é o” Sindsaúde-Sp”, sindicato filiado a CUT.
Neste espaço do jornal diziam que o ponto eletrônico era importante para garantir horas – extras dos trabalhadores e que evitava fraudes, além de descaradamente falarem à inverdade que os patrões eram contra o ponto eletrônico, ou seja, uma grande farsa.
Bom, primeiramente o ponto eletrônico não garante a tal da hora – extra (lutamos tanto por aumentos salariais e redução de jornada e tem gente lutando pelo aumento de jornada), muitos patrões ameaçam trabalhadores como todos sabemos, e em locais que tem o ponto eletrônico sabem o que eles fazem? “olha meu filho eu não posso te pagar hora – extra, mas preciso de você além do seu horário, então bata o ponto e volte a trabalhar, caso não aceite eu terei que procurar outro que aceite”, bingooo! Tai à hora – extra. Sobre as fraudes, primeiro que existem chefias, RH, enfim, vários mecanismos que se pode evitar isso. A CUT, além de ser a favor do ponto eletrônico, ainda sugere o ponto que você coloca suas digitais, onde só você poderia bater o ponto. Marx já dizia em “O Capital” que com a exploração capitalista, o relógio se torna inimigo do trabalhador, as horas não passam e o trabalhador foge do trabalho.
Porque ser contra o ponto eletrônico? Primeiramente porque o trabalhador não precisa ficar ultra-estressado preocupado em não se atrasar nenhum um minuto, pode dialogar com a chefia se acontecer alguma eventualidade em sua vida, em algumas situações de caos na cidade, o trabalhador não precisa ser punido com o ponto eletrônico e neste dia o trabalhador não precisa ser descontado por um atraso que não é sua culpa, e principalmente o trabalhador não perde o poder de negociar no conflito capital x trabalho. E os aproveitadores? Como eu já disse uma boa política de RH evita um problema sério, mas vamos colocar os eixos nos seus lugares, o aproveitador não é o trabalhador, mas sim o patrão, é este que explora o trabalhador, paga pouco, exige uma carga horária estafante e retira na maioria das vezes o direito do trabalhador de viver sua vida.
Apesar da CUT e outros dizerem que o patrão é contra o ponto eletrônico (mais uma demagogia), na prática o patrão é extremamente favor deste mecanismo de opressão, até porque foi à classe social que ele pertence foi a que criou este mecanismo, aliás, os patrões estão comemorando por ter sindicalistas que fazem isto por eles.
Para nós trabalhadores, hoje com “lobos em pele de cordeiro perto de nós” nos resta resistir, não lutar contra o ponto eletrônico significa abrir mais uma porta para que nos explorem mais ainda, ficaremos mais doentes, com o aumento do estresse, por exemplo, e teremos nossos baixos salários descontados e ainda mais reduzidos. Perderemos o poder de negociação, as chefias dirão que nada pode fazer porque o ponto eletrônico é algo que vem do RH e não tem nada a fazer. Para CUT, só nos resta declarar guerra a esta Central que se tornou pelega e hoje atende aos interesses dos patrões que rasgam elogios para tais “sindicalistas”. Em tempos difíceis, não podemos baixar a guarda, chega de colher derrotas apenas.
Everton Souza
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