A Operação
Lava Jato demonstrou para o que veio. Aos inocentes que acham que vai combater
a corrupção de tudo e de todos, demonstrou ser bastante seletiva. Até agora,
inclusive empresários relatam que os interrogatórios todos não vão ao sentido
de descobrir “algo”, mas sim “e o Lula”. Aos que acham ótimo empresários
presos, não sejam tolos o capital financeiro parte constitutiva do “capital” é
hegemônico e nenhum banqueiro esta preso ou ameaçado a ser preso, aliás, quando
a crise política se aprofunda a farra da especulação na Bolsa de Valores
aumenta e o dólar varia. Isso não significa que os outros capitalistas são
heróis, honestos ou as acusações não tenham razões de ser. Porém há uma exército
de iludidos, que acreditam que a corrupção começou agora ou se aprofundou, nada
mais inocente. Desde que se expandiu no Brasil desde a década de 50 estes
setores de empreiteiras e infraestrutura tem relações com governos e recebem
dinheiro por fora e pagam políticos por fora, militares quando foram governos
enriqueceram e empresários industriais e empreiteiros também.
Esta
corrupção é parte da estrutura montada do Estado brasileiro, que inclui
políticos profissionais, empresários e podem espernear o quanto quiserem, o
Poder Judiciário faz parte desta estrutura.
Este trabalho
de esclarecimento é importante junto a base de trabalhadores e ao mesmo tempo
muito difícil, visto o poderio da mídia que desconstrói tudo e hoje é
instrumento do conservadorismo burguês e parte da burguesia também, algo
mutante e hibrido (a mídia empresarial acumula capital, tem ações na bolsa e os
donos são empresários com fortes relações políticas, estão sim se credenciando
como uma fração burguesa do ramo da “comunicação”), procura desmoralizar
posições diferente das quais divulgam.
Estamos sob
13 anos de governos petistas, que em um amplo arco de alianças com setores
burgueses e partidos tradicionais da direita promovem o projeto de “conciliação
de classes”, onde entre muitas coisas, chulamente, o objetivo é promover a
amenização social, onde a acumulação de capital esteja seguramente garantida
para a burguesia e em contrapartida para representar constitucionalmente e
manter a direção dos trabalhadores oferecem “mínimos sociais” para o resto das
classes trabalhador. Mínimos que estão inscritos em receitas econômicas
administrativas, que não rompem com a hegemonia do capital financeiro, que
visam combater a inflação, gerar empregos sendo a maioria de baixa qualificação
e muitos empregos tercerizados e mais precários, mas não esqueçam, são
empregos, pois no fim do governo do FHC o desemprego estava altíssimo. Outros
mínimos são programas sociais, que o governo procurou ampliar, como o Bolsa Família,
que apesar de baixos valores, tem um impacto que não resolve o problema da extrema
miséria brasileira, mas cumpre a tarefa de amenização social, em um contexto de
desgraças, impacta o cenário social brasileiro. Outros Programas menos famosos
comprem a mesma tarefa, tendo dois programas que chegam para setores da classe
média como o Minha Casa, Minha Vida e o ProUni. Não são mínimos inscritos na
Seguridade Social, pois não visam mudar e impactar estruturalmente a sociedade
brasileira.
Dentro destas
contradições, chegamos sem rodeios, a 2016. Como sabem a maior liderança
histórica do Petismo e das lutas operarias da década de 80, é Lula, alguns até
apontam o fenômeno personalista do “lulismo”, o que trouxe, amores, paixões, ódios,
rancores e opiniões diversificadas sob sua figura, Inegavelmente há
preconceitos de origem de Classe, preconceito regional por ser nordestino e até
posições radicalmente ignorantes (burras mesmo) que chamam ele de comunista ou “hiper”
aliado do comunismo.
Depois de uma
forte disputa eleitoral em 2014 onde velhos ratões da política brasileira
disputaram contra o PT com a candidata administrativa Dilma, o PT por pouca
margem saiu vitorioso e desde o primeiro dia que o PT venceu não aceitaram o
resultado eleitoral. E que fique claro, velhos ratões da América Latina tem
feito este mesmo movimento, começaram na Venezuela e ameaçaram na Argentina
caso Macri não ganhasse, no caso, ganhou por muito pouco, margem menor que o
Brasil inclusive e nem por isso o Peronismo não reconheceu o resultado. Quando
falo velhos ratões, não significa alinhamento ao projeto de conciliação de
classes, que tem ratões como aliados, mas inegavelmente é mais hibrido e
complexo como arco de alianças políticas.
04/03/2016
Lula foi levado de forma coercitiva para dar um depoimento para a Polícia Federal.
Desde que o carnaval acabou a mídia empresarial, com destaque para a velha e
corrupta Rede Globo, aumentou os níveis de ataques ao governo e em especial a
figura de Lula. Trazem a polêmica de um triplex do decadente Guarujá e de um
sítio na pequena – burguesa cidade de Atibaia. Mas trazem outros
questionamentos sobre a operação lava a jato. Desde o inicio desta operação até
o momento a maioria dos acusados são seletivamente escolhidos para ser ou
ligados ou próximos ao PT, segundo vários delatores de empresários, perguntam
excessivamente para tentarem incriminar Lula. Há um forte comércio de vazamento
seletivo de diversos fatos que em tese seriam sigilosos, para a mídia
empresarial. A mídia empresarial que sabe quem vaza, não conta e o poder
judiciário e polícia federal até agora não arrolou ninguém que vendeu tais
informações.
Lula foi
levado sem antes não terem convocado para depor, a coerção só pode ocorrer
quando o convocado se nega a ir ao depoimento, ele já foi 2 vezes depor em Brasília,
sem se negar. Aliás, quem fosse se negar não estaria tranquilamente no seu
apartamento na cidade de São Bernardo do Campo. Um dia antes um show midiático foi
feito com suposta deleção de Delcídio do Amaral, claramente deixando o clima
pesado no Brasil. Com a PF na casa de Lula e depois ele em Congonhas (estranho
escolherem um lugar de grande circulação de pessoas), o clima no país se
acirrou e um show midiático e judicial foi montado. Porém rapidamente a militância
do PT se mobilizou em São Bernardo e pasmem, rapidamente já estavam em
Congonhas. Chamaram atos pelo Brasil também em defesa de Lula, contra a perseguição
política. O que de alguma forma surpreendeu muita gente, pois mesmo com claro
desgaste, os petistas se mobilizaram, dentro dos limites burocráticos que hoje
quem conhece a militância petista, sabe que estão, ficou claro que não só
petistas se mobilizaram também, houve o que muitos alertavam, violência
política e ameaças de descambar para violências mais sérias.
No almoço
Lula saiu da PF e foi para o PT e radicalizou no seu discurso, com muito
cuidado, mandou recados e procurou mobilizar a militância petista e pasmem não
só petistas, todos que mesmo discordando de suas idéias e que não concordem com
perseguições políticas. De noite a convocação de ultima hora (todos sabem que
para mobilizar para um ato, tem que haver um tempo, porque a questão
organizacional não é simples) 5 mil pessoas estavam na quadra dos bancários com
Lula claramente mobilizando contra a perseguição política.
Independente
do que acham do PT, Dilma e Lula, ficou claro que a operação lava jato tem
interesses por trás que só ingênuos (e não são poucos) não percebem que a
operação não tem como principal objetivo o combate a corrupção. Pegou muito mal
a forma que trataram o depoimento de Lula, ficou como perseguição política, “tipo”,
independentes de provas, o que importa é atingir Lula.
Radicalizou
os ânimos, outra coisa é que as manifestações anti-Pt e com fortes franjas
fascistas que estão com problema de mobilização, pareceu que serviu para tentar
ajudar nas mobilizações destes grupos de extrema-direita.
Temos um
quadro de crise econômica mundial que afeta o Brasil, um país que se digladia
politicamente dentro da política e democracia burguesa. Dilma tem fortes
problemas para governar e uma clara forma burocrática de fazer política, e a
chamada oposição (outras frações burguesas) são velhos ratões que moralmente e
politicamente tem projetos vazios e política questionada por muitos setores da
população (apesar da forte manipulação midiática a favor deles). Não sabemos os
desdobramentos da Lava Jato, mas ficou claro que em seu conteúdo a perseguição política
é parte constitutiva, pelo menos foi com Lula. Como eu disse no começo, todos
os governos governaram em um Estado onde esquemas são a forma de gerir a
política burguesa. Sendo assim, o questionamento de outros governos anteriores
de fato não é ilegítimo. Mas o principal é o seguinte, em um Poder Judiciário
que faz parte da forma de gerir o Estado, com esquemas montados para desvios,
podem este poder ser neutro? Não pode. Porém, o próprio governo não nega os
esquemas da Petrobras, a corrupção que existiu, o que negam é em matéria de
direito e quem alguns se beneficiam da corrupção e outros não.
A situação
fica clara que é muito complexa, uma operação que não se pode confiar, pois a
velha bandeira do combate a corrupção já foi usada para o golpe de Estado em
1964, que depois pasmem, só aumentou tal prática. Outra situação é que o combate
e fogo cerrado contra o PT, Lula e Dilma, com forte “forçação” de barra da
mídia empresarial é algo há desconfiar e o judiciário ou com vazamentos
seletivos ou com delações direcionadas, não são confiáveis.
Onde querem
chegar? Muitos apontam ou para um Golpe de Estado, violência política com a
prisão de Lula e perseguição de quem for de esquerda e resolver lutar contra
outros que governarem. Há o que se preocupar. Outros apostam para o desgaste político
ao extremo do PT e Lula, para serem derrotados eleitoralmente, mantendo o
sistema burguês sobre outra gerencia, algo que tem sim como forte
possibilidade, até porque desestabilização é sempre um risco para as classes
dominantes.
Dentro deste
quadro a categoria mediação se faz necessária de ser usada. Mediação onde se
deve entender que a questão não é defender cegamente o PT, Lula ou Dilma, quem
faz isso mente para o povo, pois há sim ataques contra os direitos dos
trabalhadores, pois a conciliação de classes esta em crise visto a crise econômica
principalmente, e logo ceder tem sido a saída, e como dito no começo do texto,
ceder significa atacar a seguridade social e os tais “mínimos sociais”. Porém a
questão e o jogo do poder não se resumem mecanicamente ou de forma dogmática,
onde o que vale é defender ou não o PT ou o governo, mas sim entender o que
esta em jogo e as ameaças do resultado final. Logo, para aqueles que não são
iludidos e nem pretendem marchar contra tudo e todos sem força nenhuma para
isso, vale tomar muito cuidado, pois aqueles que pedem a cabeça de Lula, não
lutam pelo socialismo, e não são poucos destes que pregam o extermínio de quem
tenha posições minimamente progressistas e ai dependente do que ocorre, a pior
saída possível é uma opção e tem resultados devastadores para trabalhadores e
lutadores sociais. Descambar para a violência política contra tudo e todos que
ousarem questionar o senso comum midiático são outra questão há se observar e
tomar cuidados.
Cair em
posições sectárias e com baixa compreensão das ameaças, além de se omitir por
pura arrogância é uma opção que é devastadora também.
Tudo isso não
significa em cair nas velhas ilusões, ou abandonar a luta de outro projeto societário,
concordo com Anita Prestes, o trabalho é de longo prazo, artesanal e de enraizamento
nas massas sem iludir elas com projetos que no final se adaptam com o sistema
vigente. Mas para o trabalho de longo prazo, há que ocorrer espaço democrático mínimo
para isso, a operação lava jato não se coloca a favor deste trabalho e o que
pode estar em jogo é que este trabalho nunca mais ocorra.
Everton Souza